O nosso jeito único de viver é... Com Sotaque.

erika-fletcher-yGMKq1GBtU4-unsplash (1)

O que precisaremos deixar para trás 

Quando me mudei de país eu sabia que enfrentaria muitos desafios, o difícil foi saber o que colocar na balança e como mensurar o valor do que ficaria para trás. 

A gente e as pessoas ao nosso redor nos questionam sobre nossa decisão de sair do país, especialmente, se temos uma família, se temos um trabalho e uma possibilidade de vida bem confortável.

Esses são os itens mais óbvios colocados na balança do que é deixado para trás. Para muitos, assim como foi para mim, deixar a família para trás custou muito caro.

O desejo de retorno constante, também, me custou caro, foram uns quatro ou cinco anos de vida dividida entre ser feliz no novo país e a tristeza de não saber quando eu realizaria o meu desejo de estar no Brasil todas as vezes que houvesse um aniversário, uma festinha, ou que eu conseguisse estar presente em momentos difíceis como a perda dos avós.

Você vê, né, como é difícil conciliar tudo. Por isso, já de cara, meu melhor conselho pra você é: aceite que tudo não terás! Se seu desejo é morar fora não terás o que tinha no Brasil.  Se teu desejo é estar perto de familiares, dificilmente você fará a vida no estrangeiro. É como a vida funciona, uma vez que aceitamos que as coisas não saem como queremos, muita coisa fica bem mais simples.

Não me entenda mal, estou sendo bem pratica porque foi assim que as coisas para mim começaram a melhorar. Quando eu aceitei que eu não voltaria tão cedo ao Brasil para morar. E aí me permiti construir coisas importantes aqui em Los Angeles mesmo.

Pensa assim, o que mais sentimos falta? O clima, o estilo de vida, a comida e, principalmente as pessoas. Esses são os principais motivos que fazem as pessoas voltarem. Eram esses os meus motivos também, só que como eu achava que em breve estaria de volta, não priorizei a construção disso tudo aqui em Los Angeles.

Esse é um ponto muito interessante que precisamos considerar, o tempo que queremos morar fora e o que buscamos. Com isso definido, talvez nem exista dor na mudança.

A dor acontece quando as coisas práticas da vida, aqueles costumes de anos que vamos fazendo e fazendo sem pensar duas vezes passam a não ser mais parte da nossa vida. A dor vem quando o vazio nunca é preenchido.

O importante, portanto, é manter as amizades que valem a pena, cultiva-las mesmo à distancia. Pode acreditar, as amizades reduzem em numero, mas as que permanecem são muito especiais, e penso que é o que se manteria mesmo se estivesse no Brasil.

Alem disso, abre-se espaço para novas amizades. Amizades que enriquecem porque trazem novas línguas, culturas, piadas e fazem com que nos sejamos ainda mais completas. Pessoas ao redor do mundo nos trazem perspectivas de vida que nos ajudam a rever nossas condutas e comportamentos. Assim como, reafirmar pontos de vista e valores.

Assim, aceitar que nossas vidas mudarão ano apenas ajuda no processo de adaptação, como é a adaptação.

Aquele estilo de vida em que há pessoas disponíveis a qualquer momento será algo quase que impossível, isso porque estamos num processo completamente diferente, não de locais, mas de quem está buscando um mínimo de pertencimento.

A vida solitária toma conta, mesmo que estejamos envoltos em muitas atividades e pessoas.

Não se desanime, isso é normal e você irá aprender a gostar dessa vida mesmo assim. E apesar de parecer intensa a vida no exterior dessa forma que te apresento, te digo que não é apenas isso. Haverá dor sim, mas, também haverão momentos de muita satisfação pois o que faz a diferença é saber que o nosso espaço pessoal passa a tomar uma forma nova. E as relações também.

Veja só, a vida muda, e vai mudar mesmo que você estivesse no Brasil. A parte truculenta da vida no exterior é que poucas coisas acalentam o coração. Se trata mais do fato de se manter ocupada do que de se sentir acolhida. Se trata mais de fazer vínculos significativos e ver a pessoa ir embora.

Percebe? Os apegos mudam. Passamos a nos apegar mais na qualidade do que fazemos do que na quantidade. Por exemplo, passamos a aproveitar mais o tempo com as pessoas do que na quantidade de pessoas que temos ao nosso redor. O trabalho não é onde fazemos amizades. Os vínculos de amizade passam a se dar de acordo com os perrengues que vivemos juntos.

Seja qual for a experiencia de uma pessoa que nunca saiu do Brasil e a experiencia de quem vive fora do Brasil, essas duas depois de mais de 50 anos de vida irão, provavelmente destacar as mesmas coisas como valores de vida e o que desejam a partir desse momento.

Portanto, te digo que é importante pensar no que esta sendo deixado para trás, mas sem muito peso pois a vida ira acontecer e mudar seja onde for. Porque estamos aqui para isso, para mudar, crescer, evoluir se possível. 

Se tens vontade de sair, de conhecer um pais novo, vá o pior que pode acontecer é você voltar ao Brasil e começar tudo de novo. E que vantagem, você tem um lugar para voltar e um lugar onde conhece tudo para recomeçar!

Falamos bastante sobre tudo isso com a Fernanda Fell no episódio O que teremos que deixar para trás, clique aqui para ouvir.

Se quiser conversar mais sobre isso e outros assuntos, entre em contato comigo, estou disponível para conversar e ajudar no que precisar.

 Com carinho, 

Natalia

Compartilhe: